O fim da noite de 30 de novembro de 2020 entrou para a história de Criciúma. A madrugada que se aproximava, da terça-feira, 1º de dezembro, acabou sendo a mais tensa que os criciumenses jamais esperavam testemunhar.
Bandidos sitiaram a cidade, atacaram o Banco do Brasil e levaram mais de R$ 125 milhões. Há 16 prisões preventivas decretadas, 15 destes estão presos e um foragido. As investigações continuam.
Um semestre se passou e, certamente, Sandra Aparecida Nunes está entre as pessoas que mais sofrem com o episódio.
– O tiro foi nele. Nós estamos sofrendo muito, mas ele é um milagre. Agradeço a Deus todo dia por te-lo de volta conosco -.
A frase é da mãe do soldado Jeferson Luiz Esmeraldino, vítima do ataque.
Ele foi baleado no confronto entre os bandidos e a Polícia Militar em um dos acessos à cidade, quando a ação dos criminosos estava no início.
A troca de tiros se deu nas proximidades do Batalhão da Polícia Militar onde Esmeraldino servia como integrante da Rádio Patrulha, unidade destacada naquela noite para o primeiro enfrentamento.
– O Esmeraldino é um policial fora da curva, sempre foi batalhador. Ele vive a polícia. E fora da Polícia Militar a vida se baseia na filha – contou, na ocasião, o colega Matheus Espíndola, que trabalhava havia um ano com ele. Matheus fez referência à filha de 5 anos, fruto de um relacionamento desmanchado havia algum tempo quando do tiro sofrido pelo policial.
A luta pela sobrevivência
A partir daquela madrugada, Esmeraldino iniciou uma briga pela vida que ainda persiste. O tiro foi arrasador para o corpo do policial. Atacou os pulmões em cheio e causou danos sérios ao fígado, estômago, rins e intestino, que precisaram de reconstruções em inúmeras cirurgias. Ele passou o primeiro mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em Criciúma, da qual saiu em 4 de janeiro. Deixou o hospital em 5 de fevereiro e ali começava outra jornada, a da recuperação em casa.
A mãe é sincera. Não guarda expectativas de ver o filho recuperado. – O médico foi direto conosco, para que não criássemos expectativas – aponta. Logo, Sandra adaptou sua casa no Bairro Passagem, em Tubarão, para ter, pelo tempo que a natureza permitir, um filho acamado. – A nossa casa é pequena, humilde, pobre. Tivemos que isolar uma sala para fazer o quarto do Esmeraldino. E aqui faz frio, e a janela dá para a estrada, e tem a curiosidade das pessoas – observa.
Na semana passada, quando foi necessário o deslocamento de Esmeraldino para uma das muitas consultas médicas, aquela dificuldade habitual. – Tivemos que deslocar ele na maca, na chuva até a ambulância – diz. Esmeraldino não se move mais. – Ele apenas pisca os olhos, às vezes parece que tenta responder a algum estímulo piscando, mas não temos certeza. Ele não mexe nada do corpo, não fala, chegou a perder uns 30 quilos desde aquele dia triste – registra Sandra.
O policial não respira nem pelas narinas, nem pela boca, mas sim por traqueostomia. A alimentação é feita por sonda, que leva o alimento líquido diretamente ao estômago.
O apoio da PM
Agora, a família está às voltas com uma infecção pulmonar sofrida pelo soldado. – Foi medicado, tem consulta nessa segunda – observa. Sandra tem recebido visitas constantes do coronel Evandro Fraga, comandante da Região de Polícia Militar de Criciúma. – O coronel sempre vem aqui, demonstra preocupação, os colegas dele também, trazem fraldas, tudo o que podem para ajudar – cita, agradecida.
O Governo do Estado contratou um serviço de home care para os cuidados permanentes à saúde do soldado. – É uma equipe grande, elas ficam 24 horas aqui se alternando, tem enfermeira, fisioterapeuta, fonoaudióloga – refere Sandra.
A Polícia Militar anunciou, no último sábado, que Esmeraldino foi reformado na carreira e está em estudo a promoção por ato de bravura, o que significará um importante apoio no salário que o soldado recebe, ainda dos tempos da ativa.
A nota emitida pela PM sobre o soldado Esmeraldino:
As dificuldades financeiras
– De fato, ele não ganhava bem – reconhece a mãe. – Ele teve uma separação, e pagava alguns empréstimos. Por último o meu filho estava buscando uma moradia onde não pagasse aluguel. Então estamos pagando dívidas dele, estamos tentando deixar tudo em dia para manter o nome dele limpo – refere Sandra.
Logo, dos vencimentos do próprio soldado não tem sido possível tirar apoio financeiro para a manutenção dos seus cuidados. Mas a mãe tem estado alheia a esses poréns. – O Estado tem dado todo o apoio, ressarcem todos os custos quando possível e essa parte quem cuida mais é o meu filho – relata. Jeferson é o mais novo dos três filhos de Sandra. O pai deles já é falecido.
O sonho: uma edícula
O soldado já foi vacinado com a primeira dose contra a Covid- 19. Agora, a família corre atrás de um sonho: estruturar um espaço mais adequado para Esmeraldino na pequena casa do Bairro Passagem. – Queremos fazer uma edícula, com três cômodos, onde tenha um quarto para ele, um espaço para as cuidadoras e uma cozinha para elas. Temos um terreno aqui nos fundos de casa e estamos em busca dos recursos para isso – conta Sandra. – Seria um pouco de privacidade e conforto para ele – emenda.
Para quem quiser ajudar o soldado Esmeraldino:
Caixa Econômica Federal
Agência 0425
Operação 013
Conta 00145518-7
Embora a situação irreversível de Jeferson Esmeraldino, a mãe segue no seu apoio incondicional. – A gente conversava de vez em quando sobre o risco dessa profissão, mas ele dizia que era o que ele gostava de fazer. Ele fez um juramente, de dar a vida pela defesa da sociedade, e ele cumpriu esse juramento – lembra Sandra.
Jeferson Esmeraldino completou 33 anos no último dia 1º de fevereiro, exatamente dois meses depois de ter sido baleado no assalto. Agora, a gente vai cumprir o nosso papel de cuidar dele – finaliza a mãe.
Por Denis Luciano
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