Uma situação incomum e angustiante marcou o velório de Kiara Cristayne de Moura dos Santos, uma bebê de oito meses, na cidade de Correia Pinto, na Serra Catarinense, no sábado (19). A menina foi declarada morta duas vezes em um intervalo de menos de 24 horas. A primeira declaração de óbito foi dada na madrugada de sábado, após a bebê ter passado mal e sido internada. Horas depois, durante a cerimônia de despedida, familiares e presentes relataram que o corpo da criança ainda estaria quente e que ela teria movido a mão, reacendendo a esperança de que ainda estivesse viva.
O pai, Cristiano Santos, desabafou sobre o trauma vivido pela família. “Eu perdi duas vezes”, lamentou, em referência à nova confirmação de morte pela equipe médica após a bebê ser levada de volta ao hospital. “Foi dada uma bordoada no meu sonho duas vezes”, disse ele ao relembrar a sequência de acontecimentos.
Movimento durante o velório reacendeu esperanças
Durante o velório, pessoas que estavam presentes em outra cerimônia ao lado começaram a alertar a família de que o corpo da bebê parecia estar quente. Segundo Cristiano, ele e a esposa estavam tão abalados emocionalmente que, no início, acreditaram que poderia ser algo relacionado ao psicológico deles. No entanto, a suspeita de que a bebê poderia estar viva ganhou força quando outras pessoas relataram ter visto o movimento da mão da menina.
“Uma senhora de outro velório comentou que minha menina estava quente. A gente encostava, e realmente ela estava, mas não sabíamos o que pensar”, afirmou o pai. A família então acionou o Corpo de Bombeiros, que, ao chegar ao local, encontrou a criança com batimentos fracos, levando-a de volta ao hospital. Lá, no entanto, foi confirmado novamente o óbito.
Perícia descarta vida após morte
Após o ocorrido, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) solicitou uma perícia emergencial. O laudo indicou que não havia sinais vitais durante o velório e que os movimentos observados eram espasmos cadavéricos, um fenômeno que pode ocorrer em um curto período após a morte. Segundo o pediatra João Guilherme Bezerra, esses espasmos podem ser mais perceptíveis em bebês, cujos músculos ainda podem reagir por conta de atividades residuais.
“A água quente e os batimentos percebidos são explicáveis por reações químicas que ocorrem nos músculos antes do corpo entrar em estado de rigidez. Esses movimentos não indicam vida”, explicou o especialista. A conclusão do laudo foi que a bebê já havia falecido por volta das 3h da madrugada de sábado, e não estava viva no momento do velório.
Investigação sobre possível negligência
O Ministério Público continua investigando o caso e se houve negligência no primeiro atendimento médico prestado à bebê. Kiara foi levada ao hospital pela primeira vez na quinta-feira (17), quando foi diagnosticada com uma virose e liberada. No sábado, a menina passou mal novamente e retornou ao hospital, onde foi declarada morta. A causa da morte foi registrada como desidratação e infecção intestinal bacteriana, mas o hospital inicialmente havia informado à família que se tratava de asfixia por vômito.
O MPSC aguarda a conclusão do laudo anatomopatológico, que deverá determinar se houve erro ou negligência médica. O resultado será divulgado em até 30 dias.
Nota oficial da prefeitura
A Prefeitura de Correia Pinto, responsável pela Fundação Hospitalar Faustino Riscarolli, onde a criança foi atendida, emitiu uma nota oficial. No comunicado, a prefeitura se solidarizou com a família e afirmou que o atendimento foi realizado conforme os protocolos. O documento reafirma o compromisso do hospital em garantir o melhor atendimento possível e esclarece que todas as medidas cabíveis foram tomadas, incluindo a solicitação de perícia imediatamente após o segundo atendimento da bebê.
O que são espasmos cadavéricos?
De acordo com o pediatra João Guilherme Bezerra Alves, os espasmos cadavéricos, ou rigor mortis, são causados por reações químicas nos músculos que podem ocorrer por um curto período após a morte. Esse fenômeno explica os movimentos observados durante o velório e não indicam sinais de vida. “Esses reflexos involuntários podem ser confundidos, mas são naturais e não representam reanimação ou retorno à vida”, explicou o médico.
A família, ainda em choque com os eventos, agora aguarda o encerramento da investigação e busca respostas para a dor de ter perdido Kiara duas vezes em um único dia.
Com informações NSC
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