Os casos de hepatite aguda em crianças, detectados em 12 países, principalmente na Europa, levantam questões e receio do surgimento de uma nova epidemia. A origem dessa grave inflamação do fígado, no entanto, segue desconhecida.
Até o momento, não há casos confirmados dessa hepatite no Brasil. Ainda assim, a SES (Secretaria de Estado da Saúde) informou nesta terça-feira (26), que está em alerta e monitora a situação da doença em Santa Catarina.
De acordo com a pasta, o Ministério da Saúde já alertou todos os Estados brasileiros sobre o avanço dessa hepatite. O monitoramento está sendo feito pelo CIEVS/URR (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde/Unidade de Resposta Rápida) estadual.
Além disso, a SES informa que está elaborando uma nota de alerta sobre a hepatite aguda para os municípios catarinenses.
Casos em 12 países
Os primeiros casos da hepatite aguda surgiram no Reino Unido, que conta com o maior número de casos (114). Em seguida, foram revelados casos na Espanha (13); na Dinamarca (6); na Irlanda (5); na Holanda (4); na Itália (4); na França (2); na Noruega (2); na Romênia (1) e na Bélgica (1), segundo dados OMS (Organização Mundial de Saúde).
Fora da Europa, Israel (12 casos) e Estados Unidos (ao menos 9) se juntam à lista.
Um novo levantamento divulgado nesta terça pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) estimou em 190 o número total de diagnósticos com essa característica no mundo.
As crianças afetadas têm de um mês a 16 anos, mas a maioria é menor de 10 anos e muitos são menores de cinco anos. Nenhuma tinha outra doença. Houve uma morte, mas não há detalhes sobre a vítima.
A causa atual da hepatite é desconhecida. No momento, uma causa infecciosa parece o mais provável, mas não foi estabelecido nenhum vínculo comum com alimento contaminado ou tóxico que pudesse ser identificado.
Alta de casos é incomum e preocupante
A hepatite é uma inflamação do fígado, como reação a um vírus, a tóxicos (venenos, drogas, etc.) ou a doenças autoimunes ou genéticas. Sua evolução costuma ser benigna e seus principais sintomas – febre, diarreias, dores abdominais – se resolvem rapidamente ou deixam poucas sequelas. Às vezes, de forma mais rara, podem provocar insuficiência renal.
Mas “a crescente alta do número de crianças afetadas por uma súbita hepatite é incomum e preocupante” indicou ao Science Media Center britânico Zania Stamakati, do centro de pesquisa sobre o fígado e sobre o aparelho gastrointestinal da universidade de Birmingham.
Entre as possíveis pistas, o adenovírus foi detectado em ao menos 74 crianças, dos quais 18 era o chamado “tipo 41”.
Vários países, entre eles a Irlanda e a Holanda, informaram sobre uma crescente circulação desses adenovírus. Porém, seu papel no desenvolvimento das misteriosas hepatites não está claro.
A possibilidade de uma relação com a covid-19 figura também entre as hipóteses. A covid-19 foi detectado em 20 das crianças. E outros 19 mostraram uma coinfecção de covid e de adenovírus.
Porém, “se essa hepatite estiver sendo causada pelo covid-19, seria muito surpreendente que não foram muito mais numerosas dada a forte circulação do Sars-CoV-2”, destaca Graham Cooke, especialista de doenças infecciosas do Imperial College de Londres, ao Science Media Center.
O que é hepatite?
Conforme a OMS, a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado causada por uma variedade de vírus infecciosos (hepatite viral) e agentes não infecciosos. A infecção pode levar a uma série de problemas de saúde, que podem ser fatais. Existem cinco cepas do vírus da hepatite: A, B, C, D e E.
Embora todas causem doença hepática, existem modos de transmissão, gravidade, distribuição geográfica e métodos preventivos diversos entre si.
Os vírus B e C, diz a OMS, causam doenças crônicas em milhões de pessoas e, juntos, são a principal causa de cirrose hepática, câncer de fígado e mortes relacionadas à hepatite viral. Estima-se que 354 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com hepatite B ou C. A maioria não acessa testes e tratamentos.
Quais são os sintomas?
De acordo com a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês), os sintomas mais comuns da doença são: urina escura; fezes brancas ou acinzentadas; comichão na pele; olhos e pele amarelados (icterícia); dores musculares e nas articulações; cansaço; perda de apetite; dores de barriga.
O quadro das crianças europeias é de infecção aguda. Muitos apresentam icterícia, que, por vezes, é precedida por sintomas gastrointestinais, principalmente em pequenos até 10 anos.
Como prevenir?
Mesmo sem causa identificada, em nota, a diretora de Infecções Clínicas e Emergentes da UKHSA, Meera Chand, deu algumas orientações aos pais e responsáveis.
“Medidas convencionais de higiene, como boa lavagem das mãos e higiene respiratória, ajudam a reduzir a propagação de muitas das infecções que estamos investigando.” Ela também pediu para que fiquem atentos a sinais de hepatite e contatem profissionais de saúde.
Quais foram as orientações da OMS?
Segundo a OMS, como há tendência crescente de casos desde o mês passado no Reino Unido, é provável que ocorram mais confirmações antes que a etiologia (causa) seja identificada.
A organização encorajou países a identificarem, investigarem e notificarem casos potenciais. Com base nas informações obtidas até agora, a organização recomendou não restringir viagens a países com casos confirmados. Mas destacou que está monitorando o cenário. (Com agências internacionais).
Por Bruna Stroisch / ND
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