Dois meses e meio após o começo da vacinação maciça contra a covid-19 no Chile, que já administrou 12,7 milhões de doses, o Ministério da Saúde publicou na sexta-feira o primeiro relatório de efetividade da vacina Coronavac, do laboratório chinês Sinovac. O país sul-americano realizou 90% das imunizações com essa vacina, enquanto 10% restante foi feito com a norte-americana Pfizer.
De acordo com um estudo em grande escala realizado com a informação de 10,5 milhões de pessoas, a vacina tem 80% de efetividade para prevenir mortes, 14 dias depois da segunda dose.
Os resultados, que foram chamados de “animadores” pela comunidade médica chilena, mostram que a vacina chinesa foi efetiva em 89% para evitar a internação de pacientes críticos em UTIs, em 85% para prevenir as hospitalizações e 67% para impedir a infecção sintomática da doença. Os dados também são positivos para o Brasil, onde a Coronavac é o imunizante mais usado contra a covid-19.
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“São resultados muito bons”, afirmou Rafael Araos, assessor da Subsecretaria de Saúde Pública, encarregado de apresentar o estudo. “Se todos fôssemos vacinados no começo da pandemia e a efetividade da vacina se mantivesse estável no tempo, em vez dos 24.923 mortos confirmados até hoje, teríamos por volta de 5.000”, calculou o especialista.
O Colégio Médico, o grêmio que liderou a contraparte do Governo na pandemia, reagiu imediatamente ao estudo: “Resultados animadores. Vamos nos vacinar e continuar nos cuidando”, escreveu nas redes sociais Izkia Siches, a médica que preside o órgão.
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O Chile já vacinou com duas doses 33,7% de sua população prioritária (15.200.840), que pretende terminar de inocular no primeiro semestre de 2021. Na próxima semana já começará a vacinar as pessoas saudáveis de 47 anos com a primeira dose. Ao contrário dos testes clínicos, a efetividade mostra a proteção dada pela vacina em condições de vida real. Os dados não são sequenciais, e sim independentes, o que explica a diferença de efetividade em contágios, internações, hospitalizações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e mortes.
Os dados eram esperados pela comunidade científica e a sociedade em geral, dada a intensidade da nova onda da covid-19. Atualmente, o Chile tem 90% da população confinada —com comércio restrito e colégios fechados—, e na quinta-feira registrou um recorde de mortes: 218.
Os casos diários estão em 7.590, ainda que nesta onda tenham chegado a 9.171, como aconteceu em 9 de abril. Os casos ativos chegam a 46.492. De acordo com o último relatório da ICOVID Chile, uma iniciativa liderada pela Universidade do Chile, a Pontifícia Universidade Católica do Chile e a Universidade de Concepción sobre a base dos dados oficiais, “o número de novos casos nacionalmente cresceu 12,6% em relação à semana anterior”. “A ocupação de leitos no país continua em vermelho e se estabilizou em 95,5%”, indica a ICOVID, que prognostica a agudização da crise hospitalar pelo aumento significativo dos novos casos.
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A pesquisa de dois meses começou no início de fevereiro, paralelamente ao começo da vacinação maciça e utilizou a base de dados dos pacientes do sistema público, ao que pertencem oito de cada 10 chilenos (Fundo Nacional de Saúde – Fonasa, na sigla em espanhol).
Foram feitos filtros de variáveis fundamentais para poder ajustar o modelo: idade (maior de 16 anos), sexo, região da residência, divisão das internações e nacionalidade, entre outros fatores, como doenças crônicas. Por fim, além dos filtros, se trabalhou com a informação de 10,5 milhões de pessoas: 2,5 milhões que receberam duas doses (completamente imunizadas), 1,5 milhão com uma dose (parcialmente imunizadas), e outros 6,5 milhões que não receberam nenhuma vacina no período do estudo.
Em números redondos: no período da pesquisa faleceram 54 pessoas com duas doses da Sinovac, 527 com só uma dose e 1.069 que não haviam recebido nenhuma, ainda que estes números não sirvam para calcular probabilidades.
Este primeiro acompanhamento do Ministério da Saúde foi feito sobre a base de casos e mortes confirmadas por covid-19, não com suspeitos. Não se mediu os anticorpos, de modo que não se estabeleceu a duração da imunidade.
O estudo observacional não aborda especificamente a efetividade nas variantes que entraram no país (brasileira e britânica, pelo menos), mas como foi realizado em um momento de alta quantidade de transmissão da covid-19, é possível especular que a pesquisa contempla as diversas linhagens, informou o Ministério.
Também não conseguiu determinar quando o Chile chegaria à imunidade de rebanho e a efetividade da vacina Pfizer no país. Sobre a necessidade de uma terceira dose da Coronavac, como se especulou localmente, será analisada de acordo com os próximos resultados.
“Com o tempo, é possível manter a efetividade, mas a informação deve ser atualizada. Porque não necessariamente a vacina irá se comportar igual em um mês: pode ser que melhore, piore e continue igual”, afirmou Araos. O Ministério da Saúde chileno entregará relatórios mensais sobre o comportamento da vacina chinesa. A variável dos falecimentos terá atenção especial, pois é menos efetiva do que em infecções, internações e hospitalizações na UTI.
Os resultados da efetividade da Sinovac no Chile se somam aos entregues previamente por outros países. “O Brasil mostrou uma efetividade de 50% para prevenir casos, enquanto a Turquia, mais de 80%, de modo que estamos no meio”, disse Araos. “A situação do Brasil era pior do que a nossa quando o estudo foi feito e a da Turquia, melhor”, acrescentou o assessor do Ministério da Saúde chileno, de maneira que era previsível estar entre os dois.
O relatório chileno também fornece dados sobre a efetividade da vacina Sinovac após 14 dias da primeira dose que, mesmo sendo bem menor, existe. Uma só injeção tem 40,23% de efetividade para prevenir mortes, 42,70% para evitar as internações em UTIs, 35,65% para prevenir as hospitalizações e 16,13% para impedir o contágio sintomático da doença. “Mas o pior que pode acontecer é que as pessoas relaxem após a primeira dose e até mesmo depois da segunda”, afirmou Araos. “É preciso se vacinar com o esquema completo da vacina inativa”.
O Ministério da Saúde, que foi acusado de excesso de confiança pelo plano de vacinação, o que teria feito com que as pessoas se descuidassem, hoje foi enfático: “A vacina que estamos usando demonstrou efetividade, devemos continuar vacinando e não se deve deixar de lado as medidas de saúde pública adicionais à imunização”, afirmou o ministro Enrique Paris.
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