
Descritos no despacho judicial que autorizou a prisão de cinco policiais militares em Florianópolis, no dia 7 de janeiro, trechos de diálogos entre os investigados revelam detalhes sobre a atuação do grupo apontado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) como responsável por se apropriar de drogas, dinheiro e objetos apreendidos durante operações e abordagens policiais.
“Aquela droga lá era pra gente tá fazendo girar”, revela trecho de uma conversa entre dois militares, que foi anexada ao inquérito.
A maior parte dos policiais envolvidos é lotada no 22º Batalhão da Polícia Militar (BPM), na região continental da Capital catarinense.
Entre o grupo suspeito de usar de função pública para praticar uma série de ações ilícitas em benefício próprio, cinco foram presos preventivamente no dia 15 de janeiro, oito dias após a autorização judicial. Um deles teve a preventiva revogada e foi solto logo em seguida.
O processo corria em segredo de Justiça até o início desta semana, quando o documento foi tornado público por decisão do juiz da Vara de Direito Militar da Capital, Marcelo Pons Meirelles.
Já no início do despacho que autoriza as prisões e apreensões, o juiz enumera uma série de ações praticadas entre os dias 19 e 20 de março do ano passado pelos investigados: “os acusados, em autoria coletiva, apropriaram-se de uma bolsa/mochila em que estavam R$ 103.000,00 em espécie, além de um volume de cerca de 1kg de cocaína prensada”, descreve o magistrado.
Entre uma ação e outra, apontadas também em inquérito policial, estão descritas as ações que caracterizam os crimes de furto e apropriação de materiais, tais como drogas, dinheiro e outros objetos apreendidos em ocorrências policiais, além de delitos de peculato, abandono de posto, prevaricação, falsidade ideológica e falso testemunho e diversas outras infrações no âmbito administrativo:
“E, por fim, os elementos colhidos também apontam que na operação policial ocorrida do dia 19 para o dia 20 de março, teria o soldado apropriado-se do aparelho celular Apple Iphone 7, durante a abordagem que subsidiou o presente inquérito policial militar”, cita o magistrado, como justificativa a cercear a liberdade do grupo.
Veja trecho do diálogos
No dia 4 de junho de 2019, dois PMs investigados reclamam sobre a conduta de um colega da corporação, que embolsou sozinho o valor obtido com a venda de um celular apreendido durante ação policial:
“Uns 4 conto o celular deve ser”, calcula o soldado, em conversa no Whatsapp. E continua: “Não sou contra ficar, mas avisa todo mundo cara. Deixa todos cientes e vê se estão de acordo”, reclama o soldado, que tem apoio do colega em relação a sua posição.
Ao fim da conversa, reitera que não ficou satisfeito com a atitude do colega de profissão, por se sentir prejudicado com a situação:
“Ele deve ter vendido. Tenho quase certeza. Mais um motivo pra falar pra todos. E dividir. Se vendeu dividi”.
Em outro diálogo, mensagens trocadas por militares envolvidos no esquema, evidenciam a normalidade com que encaravam a prática da ação delituosa, mesmo sendo eles, os responsáveis por impedir que elas ocorressem. Veja:

As investigações foram conduzidas pelo Ministério Público de SC, mas também foram realizadas pela Corregedoria da Polícia Militar, de onde teriam vazado informações, com auxílio de um servidor que integrava o grupo de investigação interna.
Mesmo com conhecimento de que suas condutas já eram observadas pela Corregedoria e que seus nomes eram alvo de Inquérito Policial Militar, como revela outra troca de mensagem, os suspeitos deram andamento em suas intenções de “melhorar de vida” através de dinheiro ilícito, fruto principalmente de tráfico de drogas.

O que diz a PM
Por meio de nota, a Polícia Militar de Santa Catarina (PM-SC) manifestou que segue acompanhando o trabalho da promotoria e colaborando sempre que demandada. Confira na íntegra:
“A PM seguirá as determinações judiciais.
1 – A investigação foi conduzida pela Corregedoria da Polícia Militar e encaminhada à Justiça para apreciação.
2 – Neste momento, o assunto está sob responsabilidade da Justiça.
3 – A Polícia Militar segue acompanhando o trabalho da promotoria e colaborando quando demandada.”
Por Clarissa Battistella
clarissa.battistella@somosnsc.com.br
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