A hipótese de que as obras de alargamento da Praia Central de Balneário Camboriú tenham atraído o grupo com pelo menos três tubarões-martelo que se aproximou na última quinta-feira (16) do Molhe da Barra Sul, levantada por especialistas, fez surgir outro questionamento: uma vez que os trabalhos ainda vão se estender por pelo menos mais um mês, qual o risco de que essas aparições inesperadas se tornem frequentes ao longo da obra?
Para os pesquisadores ouvidos pela coluna, a hipótese é remota e o caso dos tubarões tende a ser uma situação isolada.
Pelo menos dois fatores corroboram com a conclusão: as características da espécie, que dificilmente é vista em águas rasas, e o fato de que a dinâmica das obras de alargamento mais afasta do que atrai os animais. Isso significa que o avistamento desta semana pode ser considerado um fenômeno raríssimo.
Barriga cheia
O pesquisador Jules Soto, curador do Museu Oceanográfico da Univali, disse que a maneira como os tubarões foram filmados, com as nadadeiras para fora da água, mostra que estavam em um momento relaxado, pós-refeição. Isso indica que teriam sido atraídos para águas rasas em busca de alimentos.
Ele indicou a possibilidade de que, ao revolver a areia, o trabalho de alargamento tenha deixado à disposição dos tubarões peixes como linguados e corvinas, que estão entre os favoritos do tubarão-martelo. Mas afirmou que essa seria uma situação absolutamente excepcional, que foge ao padrão de comportamento da espécie – e que não deve se repetir.
Águas rasas
O principal motivo para que o alargamento não atraia tubarões à beira da praia são as características de Balneário Camboriú. O oceanógrafo Paulo Ricardo Schwingel, doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha, diz que animais como os tubarões-martelo não costumam nadar em águas costeiras, exceto em situações especiais, como na hora de dar à luz.
Mesmo assim, preferem águas mais abertas e profundas, e não enseadas como a Praia Central de Balneário Camboriú.
Obras afastam
Outro ponto que torna o avistamento um evento muito raro é que engordamento da praia afasta os peixes, já que aumenta a turbidez da água. Schwingel explica que as partículas de areias que ficam em suspensão na água, devido à movimentação das obras, representa risco de entupimento das brânquias, o que prejudica a respiração de animais como os tubarões – por instinto, eles evitam nadar em áreas assim.
– Ao contrário de atrair, a atividade de engorda de praia, que é remoção de sedimentos de um determinado local e reposição no outro, afasta organismos – avalia.
Schwingel diz que não se pode descartar a possibilidade de que os animais estivessem com algum problema de saúde, o que causaria o comportamento atípico.
Mordida
Um dos principais questionamentos sobre o comportamento dos tubarões é o risco de mordidas de tubarão nas praias de Santa Catarina. A hipótese é considerada muito remota e “insignificante” pelos especialistas. Jules Soto diz que, caso um banhista se aproximasse dos tubarões que nadavam em Balneário Camboriú, a reação mais provável dos animais era que se afastassem, com medo.
Santa Catarina não tem registros de ataques de tubarão. Os casos mais recentes, em Navegantes e na Praia do Estaleiro, em Balneário Camboriú, são de mordidas leves e incidentais, em que o animal usou a boca como meio de “sondagem”.
Em 2019, após um encalhe de tubarão em Itapema, Soto disse à coluna que o temor de ser mordido pelos animais é irracional, e tem até nome: “Efeito Jaws”. O receio do ser humano em relação aos animais marinhos recebeu essa denominação depois do filme Tubarão, em 1975.
— A maior defesa do ser humano é correr ou subir em alguma coisa. No mar, não há como fazer nenhuma delas. É um dos únicos lugares no mundo em que o ser humano pode ser predado, por isso gera um medo primitivo – explicou.
Para quem preza pela razão, não há motivo para temer.
Monitoramento
A Secretaria de Meio Ambiente de Balneário Camboriu informou que está monitorando a ocorrência de animais nas proximidades das obras de alargamento da Praia Central. Técnicos ambientais estão a bordo da draga para paralisar os trabalhos em caso de aproximação de grandes animais, como baleias – o que, por enquanto, não ocorreu.
Por Dagmara Spautz
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