Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
Por BRUNA STROISCH
Ao longo do mês de outubro, Santa Catarina contabilizou uma média de mil novos casos de Covid-19 por dia. Em contrapartida, houve a flexibilização de medidas restritivas que envolvem, por exemplo, a volta às aulas, o transporte intermunicipal e os eventos sociais.
O afrouxamento dessas medidas estaria levando o Estado a atravessar uma terceira onda da Covid- 19, na avaliação da professora Eleonora D’Orsi, que atua no Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A primeira onda teria sido em março, quando foram notificados os primeiros casos. A segunda em julho, quando o quadro da doença se agravou no Estado. E a terceira durante este mês de outubro.
Pandemia em plena expansão
Para a professora de Saúde Pública, a pandemia da Covid-19 em Santa Catarina está em plena expansão. O cenário é relatado da mesma maneira pela especialista em Epidemiologia do Coes (Centro de Operações de Emergência em Saúde), Maria Cristina Willemann.
Maria Cristina destaca que, nas últimas semanas, houve diversos relatos de aglomeração de pessoas em eventos sociais e praias. Além disso, o período de campanha eleitoral também estaria contribuindo para as aglomerações. A retomada massiva do trabalho presencial é outro fator apontado pela especialistas.
O retorno das atividades gerou, naturalmente, um maior fluxo de pessoas nas ruas. No entanto, a professora Eleonora destaca que a flexibilização deveria vir acompanhada de três fatores:
Colaboração da população em utilizar máscara, manter distanciamento social, higiene das mãos e etiqueta da tosse;
Funcionamento da gestão pública que tem o poder de formular os decretos que permitem reaberturas ou fechamentos de serviços;
Adequação dos serviços de saúde, que precisam estar equipados pelas prefeituras com mais profissionais para dar conta do eventual aumento de casos.
Razões para o contágio
Além das campanhas eleitorais, que estimulam a circulação de pessoas nas ruas, Eleonora D’Orsi ressalta que outra questão preocupante é a aproximação do verão e da alta temporada. “Junta eleições com véspera de temporada de verão, dá o combo perfeito para a explosão da pandemia”, conclui.
As cenas que circularam nas redes sociais de cidades litorâneas, como Imbituba (Praia do Rosa), Itapoá e São Francisco do Sul, durante o feriado do dia 12 de outbro, deram uma prévia de como deve ser o verão em Santa Catarina. Em meio a uma pandemia, praias lotadas, festas com aglomerações e um cenário de descumprimento das medidas de segurança.
Um terceiro fator que estaria impulsionando o aumento de casos seria o fluxo de pessoas que precisam se deslocar para o trabalho, de acordo com Eleonora.
Neste contexto, os olhares se voltam principalmente para o Centro da Capital catarinense. A professora explica que, em média, 100 mil pessoas se deslocam todos os dias para a região para trabalhar.
Grande parte vem dos municípios vizinhos, na Grande Florianópolis. O transporte coletivo atuaria como um foco de transmissão da Covid-19 por promover o ajuntamento de pessoas em um espaço fechado.
Regiões mais afetadas
A atualização do mapa de risco para Covid-19, divulgada no dia 22 de outubro, mostra que dez regiões estão em nível alto de risco (amarelo) para a doença em Santa Catarina. Outras seis regiões estão em nível grave (laranja). Nenhuma aparece em nível gravíssimo (vermelho) ou moderado (azul).
No entanto, o quesito “transmissibilidade” do mapa apresenta um cenário bem diferente. Isso porque 16 regiões do Estado estão no nível grave e duas – Extremo Oeste e Médio Vale do Itajaí – no nível gravíssimo. Somente a região do Alto Vale do Rio do Peixe está no nível alto.
A transmissibilidade é analisada na matriz de risco potencial para a doença ao lado de outras três dimensões: evento sentinela, monitoramento e capacidade de atenção. O balanço dos quatro quesitos gera o nível de risco de cada região no mapa.
Willemann diz que a região da Grande Florianópolis requer atenção e medidas restritivas mais rígidas para barrar o aumento no número de casos da Covid-19. O alto número aliado à grande circulação de pessoas nas ruas só tende a piorar a situação.
A cidade passou de 659 casos ativos no dia 7 de outubro para 1.585 doentes nesta segunda-feira (26). O aumento gira em torno de 300 novos casos por semana. Os dados são da Sala de Situação da GVE (Gerência de Vigilância Epidemiológica). Ao todo, são 145 vítimas e 17.867 infectados pela Covid-19 na região desde o início da pandemia.
Trabalhadores da saúde
O cenário da pandemia em expansão preocupa, sobretudo, quem está na linha de frente de combate à Covid-19. São eles, os profissionais da saúde.
A insegurança desses profissionais é destacada pelo diretor do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Saúde Pública Estadual e Privado de Florianópolis e Região) Walace Fernando Cordeiro.
“Os números estão maiores do que em julho. A situação está bem complicada e não sabemos o futuro. Os servidores estão apreensivos e não estão dando conta da demanda. Estamos com receio de um colapso no sistema de saúde”, diz.
Ele diz que os profissionais da saúde do Estado não passaram por uma testagem em massa. Os testes só são feitos nos servidores que apresentam sintomas.
Situação dos leitos de UTI
Ocupação dos hospitais públicos
Hospital Regional de São José: taxa de ocupação em 85%
Hospital Universitário: taxa de ocupação em 81%
Hospital Florianópolis: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 80%
Hospital Governador Celso Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital Nereu Ramos: taxa de ocupação em 53%
Hospital de Caridade: taxa de ocupação dos leitos de UTI em 46%
Hospitais particulares
O Hospital da Unimed informou, na manhã desta segunda-feira, que dos 15 leitos da UTI respiratória, 14 estão ocupados. Todos os seis leitos da UTI não respiratória (de internação) também estão ocupados.
Conforme a assessoria, esse cenário vem se repetindo nos últimos sete dias. O hospital poderá ampliar a capacidade de leitos de acordo com a necessidade.
O último boletim atualizado do Hospital SOS Cardio, divulgado neste domingo (25), mostra que 18 pacientes da Covid-19 estão internados atualmente na unidade, sendo 10 na enfermaria e oito na UTI.
O boletim disponibilizado pelo Hospital Baía Sul, nesta segunda-feira, apresenta 14 pacientes com a Covid-19 internados na UTI e outros nove em unidades de internação destinadas ao tratamento da doença.
A assessoria do hospital ressalta que os leitos são disponibilizados de acordo com a demanda e que os atendimentos e cirurgias continuam operando normalmente.
Medidas de prevenção
A professora Eleonora D’Orsi comenta que as únicas formas de barrar o contágio da Covid-19 são: uso da máscara, distanciamento social, higienização das mãos e etiqueta da tosse. Essas medidas devem ser utilizadas por toda a população, o tempo todo.
Além disso, outras medidas importantes são o monitoramento e o controle dos casos positivos. O monitoramento é a testagem de todas as pessoas que tiverem contato com pacientes positivados, que apresentarem sintomas ou que forem do grupo de risco.
Esse monitoramento é feito pelos setores da Vigilância Epidemiológica dos municípios, que estariam sobrecarregados.
“A Vigilância Epidemiológica precisa de mais pessoas. Se vão manter tudo funcionando, o mínimo é que a gestão pública forneça os meios para que a Vigilância possa fazer, adequadamente, a identificação e o monitoramento dos casos positivos. As equipes não aumentaram”, relata.
Por outro lado, se as equipes da Vigilância conseguissem identificar a pessoa infectada logo no início, afastando ela e os seus contatos de circulação, a propagação diminuiria.
O que pode ser feito?
Eleonora diz que impor novas medidas restritivas, aprimorar a informação prestada à população e equipar a Vigilância Epidemiológica dos municípios levaria ao melhor controle da pandemia no Estado.
Caso contrário, haverá o aumento do número de casos, entre eles daqueles que precisam de hospitalização. Mais mortes e a sobrecarga do sistema de saúde também estão entre as consequências.
“Já vimos tudo isso acontecer em julho em Florianópolis. Não é novidade. Nós já sabemos. Esse ‘filme’ já passou, só vai passar de novo”, adverte.
Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
A prefeitura de Florianópolis realizou, na manhã desta segunda-feira, uma reunião para debater o alta dos casos de coronavírus na cidade.
Em entrevista ao Balanço Geral, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, disse que a preocupação maior é com o alto índice de transmissibilidade na região da Grande Florianópolis.
Isso seria reflexo do descaso por parte da população com relação aos cuidados para combater a Covid-19, sobretudo no feriadão de 12 de outubro. Espera-se um aumento de casos em virtude do feriado.
O secretário citou ainda o aumento da taxa de internação hospitalar como consequência. Por outro lado, ele chamou a atenção para o baixo índice de letalidade na Capital.
Carlos Alberto destacou que a cidade continua seguindo as medidas prescritas internacionalmente pelos protocolos vigentes.
“Se obedecermos as medidas restritivas em vigor, já vamos conseguir dar conta da epidemia. Não precisamos de mais. Com isso, vamos conciliar o que é o desejo de todos, que é a recuperação econômica com o controle da pandemia”, disse.
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