As manchas que apareceram nas últimas semanas na Praia Central de Balneário Camboriú, causadas por microalgas e organismos marinhos, são alvo de um estudo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), contratado pela prefeitura. Há meses, pesquisadores cruzam dados e mergulhadores buscam no fundo do mar a resposta para as arribadas, que aumentam durante o verão.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Seman), as arribadas não têm relação com a qualidade da água do mar, no ponto onde chegam à praia. Mas o banho deve ser evitado nos locais onde há proliferação, até que seja feita a limpeza, porque há risco de as algas carregarem outros materiais em meio à trama, como objetos cortantes. Assim que elas são retiradas da água, o banho é liberado.
Do que são formadas as manchas?
Segundo o professor Charrid Resgalla Junior, pós-doutor em Oceanografia, que coordena os estudos na Univali, as manchas são formadas por microalgas e macroalgas, com a presença de organismos como briozoários e hidrozoários. Juntos, eles formam “tramas” que chegam à praia.
De onde partem as arribadas?
Este ainda é um mistério para os pesquisadores. Inicialmente, eles avaliaram a direção das correntes marítimas e identificaram pontos prováveis para a incidência das microalgas. Esses pontos foram visitados por mergulhadores, e a hipótese não foi comprovada. Agora, a pesquisa trabalha com a hipótese de que essas algas nasçam mais perto da praia, logo após a arrebentação. É nessa área que estão sendo feitos novos mergulhos.
Há quanto tempo as manchas ocorrem?
A Secretaria de Meio Ambiente de Balneário Camboriú aponta que as arribadas ocorrem desde 2004. Há mais de 15 anos, portanto.
O fenômeno ocorre em outros lugares?
Sim, e não. Há arribadas de microalgas em outros lugares do mundo, mas não das mesmas espécies que ocorrem em Balneário Camboriú. Organismos semelhantes causaram o mesmo tipo de problema na costa da Califórnia, nos Estados Unidos, há alguns anos, mas foi um fenômeno isolado. Ao que tudo indica, as arribadas, da forma como ocorrem em Balneário Camboriú são um fenômeno único no Brasil e no mundo
A temperatura interfere?
Sim, os pesquisadores observam que as tramas de microalgas aparecem mais no verão. Correntes marítimas e a direção dos ventos também interferem na chegada dos organismos.
Transatlânticos podem causar o problema?
Como o fenômeno ocorre há 15 anos, e Balneário Camboriú só recebeu em 2017 o primeiro navio de cruzeiro, a hipótese de que os transantlânticos causem o problema ao “remexer” o fundo do mar não se sustenta. Mas os pesquisadores estão coletando amostras do material que sobe à superfície quando o navio fundeia na orla de Balneário Camboriú, para identificar se há indício de algo diferente no fundo do mar.
E a dragagem do Porto de Itajaí?
Muita gente afirma que as obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu, no canal de acesso aos portos, poderia causar as arribadas em Balneário Camboriú. O material dragado é colocado em um bota-fora (uma área de descarte) na altura da Praia Brava. A dinâmica das correntes marítimas, no entanto, descartou a possibilidade do porto interferir na chegada dos organismos à Praia Central.
Algas são indício de falta de saneamento?
Elas indicam que, onde nascem, há uma quantidade de matéria orgânica suficiente para servir como “alimento”. Isso poderia, em tese, ser resultado de saneamento. Mas a proliferação também pode ser facilitada pela presença de sedimentos na água.
Em relação ao saneamento, Balneário Camboriú já teve problemas com o Rio Marambaia, que está em processo de despoluição, e com o Rio Camboriú, já que a cidade de Camboriú não possui tratamento de esgoto. Mas os relatórios de balneabilidade do Instituto do Meio Ambiente (IMA) apontam que a Praia Central está própria para banho, com exceção de dois pontos.
A Secretaria de Meio Ambiente ressalta que foram feitas nos últimos meses mais de 45 mil vistorias em imóveis e saídas irregulares de esgoto foram lacradas. O município também inaugurou um novo emissário de esgoto, que melhora a eficiência da coleta e tratamento.
E a sombra?
Os estudos não apontam para nenhuma relação entre o sombreamento da Praia Central e a proliferação das microalgas.
Por Dagmara Spautz
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